Terapia de Casal
Do respeito às diferenças ao amor pelo legítimo outro
Juntar-se e separar-se é um longo caminho pela vida… Quando bebês, necessitamos de adultos suficientemente sensíveis, amorosos e atentos às nossas necessidades para sobreviver. Aos poucos, vamos conquistando autonomia. Alguns de nós são lançados ao mundo e rapidamente aprendem a se virar sozinhos. Aprendem aos trancos e barrancos. Esses aprendizados deixam marcas em nossos corpos. Outros são protegidos de tudo e de todos, são impedidos de fazer experiências livremente, sem vigilância ou acompanhamento. Essa falta de liberdade também deixa marcas em nossos corpos.
Entre esses dois extremos, há uma infinidade de mazelas que vão desenhando os padrões de apego e amor de cada um de nós.
E chega um dia em que decidimos juntar nossa vida com a vida de alguém para sempre! Ou enquanto o amor durar. Ou por necessidade. Ou apenas para sair da casa dos pais. Não importa. Viramos um casal. Cada um com seu próprio jeito de lidar com a autonomia e a dependência, cada um com suas próprias marcas nos corpos, deixadas pelas experiências dolorosas de antigas histórias.
Mas não sabemos disso. Não pensamos nisso. Não damos valor a isso. Tocamos a vida e vamos nos adaptando às dificuldades e mazelas que essa relação nos traz. Alguns casais têm um êxito incrível em construir uma relação harmoniosa, repleta de companheirismo, parceria, cumplicidade, amorosidade e empatia. Apesar das antigas histórias, esses elementos contribuem para que possam formar uma dupla ao mesmo tempo complementar nas diferenças e simétrica no que concerne à legitimação do outro como um legítimo outro. As trocas são realizadas de forma colaborativa e a comunicação é um caminho livre tanto para a transmissão de afetos como para a resolução de conflitos.
Outros casais, porém, não têm este êxito. Mesmo quando nascem de uma paixão, podem ser atravessados por suas antigas histórias sofridas de infância. Pode acontecer de escolherem um parceiro que confirme essas histórias e os deixem insatisfeitos, indisponíveis, sentindo-se traídos, não compreendidos, não atendidos em suas necessidades. Nessas situações, a comunicação fracassa em seu poder reparador e reconciliador, sendo utilizada mais como um grito de dor ou como um grito de guerra. As diferenças são vividas como ameaças ou sinais de desprezo ou desqualificação do eu. Não há complementaridade possível, a relação se torna competitiva, sem espaço para a colaboração mútua.
A terapia de casal é um espaço de encontro para que o casal possa superar as dificuldades que vem encontrando. Como terapeuta de casais, busco criar e facilitar o processo do diálogo com base colaborativa. Busco promover um processo que mantenha múltiplas vozes em movimento e contribuindo para ampliar nossa compreensão do que se passa, pois desejo que cada indivíduo sinta que sua versão é muito importante.
É através desses diálogos que cada membro do casal pode atribuir um novo significado para interpretar e entender suas experiências por meio da linguagem. Meu papel como terapeuta é, principalmente, auxiliar na escuta recíproca e permitir a ampliação da empatia – esta sagrada capacidade de perceber que o sentimento do outro é diferente do meu e é legítimo. Minha atenção recai tanto para a linguagem falada como para a linguagem não-falada, aquela porção que configura os paradoxos relacionais.
Teremos concluído com sucesso quando, ao final de nossa jornada, o casal sinta que o diálogo entre eles ainda pode prosseguir, confiantes de que ambos tentam entender um ao outro, certos de que é possível alcançar o interior do outro e verdadeiramente compreendê-lo. Dessa forma, o casal pode escolher de modo mais consciente e sereno sobre o destino dessas conversas.